Por entre as estradas

As árvores passavam rapidamente, como se estivessem apostando corrida. Acima delas, um céu polvilhado com nuvens granuladas se dispunha por toda a extensão vista. Um sacolejo constante mantinha os passageiros acordados e sonolentos.

O ônibus estava seguindo por entre as árvores em uma estrada mal planejada. O veículo sendo despedaçado, o passageiro mais forte arrancava espelhos, jogava as malas. A mulher esperava em seu encalço para tentar colocar tudo no lugar original, nunca ficava como antes, ela acreditava que em algum momento, entre os apelos amorosos que lhe conduzia, ele iria parar.

Em certo momento, o homem quebra a janela frontal, que mostrava o caminho que estavam percorrendo. No mesmo instante a moça se dedicava a pegar e recolher o máximo de peças que conseguisse, usava fita isolante para tentar remontar o que foi quebrado, mesmo com o ônibus se movimentando. Ela cortou-se em meio ao caos externo e interno. A fronte do meio de transporte estava ensanguentada e remendada.

O homem parou por um momento ao ver o sofrimento que causava, pegou-a em seu colo e abraçou-a por toda uma noite, e ela calmamente aceitou e acreditou, com sua paixão guiando seus instintos.

Ela acordou pela manhã e novamente havia algo errado, ela gritou enfurecida, ele a olhou enquanto abria a única porta, e ainda em movimento, saltou. Ela chamava-o, sua voz era levada pelo vento, ao mesmo tempo em que se batia e sentia o abandono mesclado com a culpa.