Era jardim insosso, abandonado, deixado a própria sorte, assim como a casa que o acompanha, janelas embaçadas, algumas quebradas, com as paredes em várias partes esfarelando. Nesse local havia uma roseira, que crescia em um vinco na parede. Quando eu o vi, pensei admirada na forma incomum de sobreviver, protegida sob as telhas que de vez em quando cediam ao vento forte, lá eu vi crescer, entre os espinhos longos e folhas quase sempre em tons de verde escuro, beirando ao marrom, um pequeno botão.
O botão levou muito tempo para conseguir se desenvolver, a planta gastava quase todas as suas energias em o manter vivo e saudável. Aplicando a perseverança naquela tarefa, mesmo com longo esforço e desgaste, o botão teve forças para se abrir, revelando a rosa mais vermelha que já vi em toda a vida, uma longa vida. Por extrema coincidência, pois raramente a roseira conseguia exprimir a beleza que era capaz de produzir, um belo homem, perfumado e vestido com traje a rigor apareceu, vindo diretamente da frente do terreno, a cheirou e com as mãos enluvadas, sacou uma canivete e a levou.
A roseira ficou contente por alguém valorizar seu esforço, e assim pôde descansar para a próxima flor que iria produzir. O homem era um espanhol que eu bem conhecia, ele sempre gostava de colher as rosas logo após abertas, ainda frescas. A rosa então, satisfeita e vaidosa, foi elogiada por ele, seu aroma, seu formato e sua cor eram alvo de longos monólogos. Ela não continha sua empolgação, ainda mais ao perceber como era um homem importante, com poder econômico e de impor sua imagem e querer.
Eles viajaram juntos, ela sempre o observando, o viu ler, dormir, comer, e com admiração fazia isso. Quanto mais a viagem corria, mais sentia que algo não estava como deveria, talvez uma palavra, uma tremida, ou um momento de silencio tenham feito com que ela se sentisse assim, para logo em seguida, desaparecer da mesma forma que chegou, ele fazia tudo ficar melhor.
Ela acreditava. Era claramente bela, e também especial, pois havia sido escolhida a dedo por ele, era um sonho que jamais teria imaginado naquele jardim decrépito. O tempo passou rápido em sua viagem, quando chegaram, encontraram com outras rosas e ela ficou admirada e irritada ao mesmo tempo. Eram rosas grandes, pequenas, largas, finas, amareladas, roseadas, avermelhadas, que possuíam cores misturadas em uma só pétala, com espinhos, sem espinhos, tudo invejável e encantador. Junto delas haviam mais homens bonitos e bem arrumados, a fazendo olhar para seu próprio acompanhante, para então confundir o rosto dele com os demais.
Os homens uniram as rosas em um só ramalhete para as transportar em segurança, para que nenhuma caísse ou se machucasse no caminho para a grande estufa. A estufa era o local em que eles as deixavam para que os visitantes se aproveitassem de seu fresco e jovial aroma, assim como de suas belezas extravagantes e diversas, únicas de uma maneira exuberante.
A nossa rosa ficou amarrada junto a outras das quais ouviu histórias surpreendentes.
“Fui colhida no alto de uma montanha gelada.” Se gabava uma entre sufocos.
“Eu nasci da areia do mar, regada a água salgada e sol.” Dizia outra.
“Eu vim de um lugar muito sujo e escuro, mas agora vou ter uma oportunidade de me provar.” Quando alguma dizia algo assim, era ouvido um murmúrio de concordância de arrepiar. Todas queriam ser valorizadas como deviam, além de procurarem algo ainda melhor do que aquele de onde vieram.
A rosa ficava calada. Não estava entendendo aquela situação, que em nada a agradava. Onde está o homem com quem veio? Seria ele ali na frente? Ou ele agora é apenas mais um rosto entre os vários que as rodeavam? Não conseguia parar de pensar.
Após um longo caminho, recheado de desconforto e confissões, chegaram a um depósito, que disseram a elas ser um local para descanso. Logo, cada uma foi tomada em mãos por aquele que a trouxe para que eles falassem. A rosa escutou espantada, era absurdo, como poderiam as expor daquela forma? Era inconcebível, mas o que você pode fazer? Dizia ele, você é só uma rosa entre milhares. Ele explicou que ela poderia deixar aquele lugar, contanto que pagasse por todos os gastos que ele teve, se trabalhasse e desse tudo de si
Ela murchou um pouco e começou a viver daquela forma, entre a estufa e o ao depósito, sempre transportadas pelos homens. A primeira a se acabar foi aquela vinda da areia do mar, coitada, suas pétalas foram amassadas, suas folhas arrancadas, até que tudo se desfez em um punhado de morte. Ela foi varrida e jogada no lixo. O que mais surpreendeu as outras foi que no dia seguinte havia outra rosa que foi regada a água do mar e viveu em pleno sol, animada e pronta para assumir o cargo.
A nossa rosa resistiu muito tempo, sendo carregada para lá e para cá, cheirada, tocada, usada. Ela primeiramente terminou de abrir seu botão, que, ao colhida, ainda se encontrava por se abrir por completo, revelando uma rosa cheia de pétalas, volumosa e extremamente charmosa, mas pelas condições já descritas anteriormente, acabou que ela estava já consumida, em tendência da degradação induzida.
Algum tempo após sua chegada, tentou podar sua própria haste, pois já não aguentava continuar daquela maneira, sem poder escolher e sempre pressionada, com medo por sua segurança. Mas os homens conseguiram remendar o corte e ela cicatrizou. No entanto, aquilo apenas agravou a situação a qual estava submetida. A rosa perdeu sua consciência, eles a descartaram em um cesto de rosas usadas, que perdiam sua significancia após não gerarem mais renda.
Ela se entregou à loucura, ou melhor, como eles disseram: ella se volvió loca.