Existia um mundo vazio

Eu exploro países, planetas, universos inteiros. Eu experimento, sinto e me transmuto. Saltando de lugar em lugar, absorvendo e conhecendo. Em uma de minhas viagens, conheci um país em um planeta de lama, em que os seres possuíam as cabeças enormes, o que realmente me surpreendeu, nunca antes havia visto algo daquele tipo. Eram constituídos de braços longos, pernas longas (alguns eram exceções), mas o que me surpreendia mesmo foi o tamanho do crânio, fenomenalmente grande. Minha surpresa foi tanta, que ao escolher a melhor hospedeira, a primeira coisa que fiz foi pensar com aquela mente e o resultado me surpreendeu mais do que o esperado.
Era puro vazio, vácuo, e os pequenos pedaços isentos disso, continham um sentimento, uma sensação que eu não havia experimentado antes. Com o tempo eu entendi o que era. Aquilo era ódio puro e genuíno, apresentado das mais diversas formas, na falta de cordialidade, empatia e consideração. O povo era em suma, individualista de uma maneira que jamais teria imaginado.
O primeiro dia, eu preferi passar em minha solidão, compreendendo, me movimentando no pequeno apartamento, acariciando um dos poucos seres vivos que me inspiravam carinho, naquele momento, um bichinho pequeno e peludo, que as vezes me queria por perto e outras não. Em minha mente pairava politica, direitos e revolta, me deixava confusa e desnorteada, explorei as memórias e encontrei coisas boas, ao menos coisas que eu achava que eram boas, que me faziam sentir bem comigo. Mas era um passado que como tudo a minha volta, era confuso. Eu sentia fúria ao pensar em pessoas que antes foram minhas amigas, o corpo emprestado esquentava e começava a querer bater e socar nas coisas. Na mente eu via que todos agiam da mesma forma, sejam na vida privada quanto em meio a sociedade.
As pessoas se dividiram, criaram barreiras, involuíram, regrediram da forma mais tosca possível, reflito enquanto escrevo. Ela, quem eu habitei, namorava um ser da mesma espécie mas diferente, algo como macho e fêmea, no caso, o macho dela, inspirava da mesma forma, raiva, mas também amor, sentimento que quase não experimentei, apenas em memórias e essa fagulha com o macho. Ele se fazia de bom moço para hospedeira, ela sabia quem ele era, quando a interrompia com falas absurdas, quando propagava ódio e a culpava de seus problemas. Resolvi não interferir, não é meu papel tomar decisões por eles.
Ela tinha ódio de tudo o que havia acontecido e que estava acontecendo, injustiça e luta, discursos sem sentido e falsa cooperação. Mas sem entrar em mérito de problemas que não são meus. Em meio ao vácuo da vida dela, havia uma pessoa boa, perdida em uma tempestade de maldade, compreendi também que ela não estava sozinha, mas acabava por ser absorvida e convencida. Ela se sentia impotente e burra, para melhor me expressar, usei de tais palavras.
Aquele era um povo que cheirava a decadência, encima de uma história e uma potência que foi deixada de lado, eram cabeças de vento cheias, algumas com ideias, outras com furor.

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