Jorge Leal Amado de Faria nasceu em Itabuna, Bahia, com um ano de idade foi para Ilhéus, lugar em que completou seus estudos e iniciou seu envolvimento na literatura, trabalhando em um jornal e fundando a

Academia dos Rebeldes. (1928-1933). Teve seu primeiro romance publicado em 1931, O país do carnaval, e seguido de inúmeros outros com os mais diversos cenários. Foi filiado do PCB (Partido Comunista do Brasil), sendo o mais votado deputado federal da época do Estado de São Paulo. A lei que assegura a liberdade religiosa que está em vigor até os dias de hoje foi feita por ele.
Mar morto foi escrito em 1936 e retrata a vida em um cais no litoral baiano, com principal fonte de renda as travessias de transporte de carga por meio de canoas, saveiros e pequenas embarcações.
Gumercindo, ou Guma, como foi conhecido, nasceu e foi levado ao cais para ser criado por seu pai, que logo morreu no mar, deixando a criação do menino por conta de Francisco, seu tio, que era um grande mestre dos saveiros. Rapidamente o rapaz demonstra levar jeito para a vida no mar, conseguindo logo no inicio da adolescência guiar sozinho o saveiro “Valente”, de propriedade de seu tio, e logo seria do menino.
Na mesma época em que começou a guiar sozinho a pequena embarcação, a mãe do moçoilo apareceu para tentar levar o rapaz com ela, mas seu meio de vida de cortesã não era garantia de vida para a criação de seu filho. Guma a viu e pensou que seria a mulher que lhe dariam para ser sua primeira mulher, logo percebeu o engano e o desejo que nutriu brevemente direcionado a própria mãe, ficando sem palavras a lhe dizer, ela disse que voltaria para vê-lo, apesar disso, nunca mais foi vista.
O jovem começou a pedir a Iemanjá, dona dos mares e marinheiros, que lhe mande uma mulher tão linda como ela própria, para satisfazer seu desejo de amar a uma só, companheira e mãe de seus filhos.
Conheceu aos 20 anos, Rosa Palmeirão, muito mais forte que qualquer homem, conhecida pela navalha na saia, punhal no peito, também por bater e matar homens e já ter sido presa. Uma mulher forte e robusta, que se relaciona com o marinheiro, mas realmente está em busca de um filho, alguém para amar e acalentar. Durante essa estadia, um navio preso na tempestade com perigo de naufragar pede socorro, o rapaz foi o único a se oferecer, conseguindo socorrer com sucesso, aumentando sua fama por todo o cais, e regiões além. Chega a festa de Dona Janaína, nela Guma sabe que chegará sua esposa na comemoração, por isso dispensa a companhia de Rosa, a mulher pede a ele que assim que seu primeiro filho nascer, mande chama-la, pois ela seria a avó e ajudaria criar a criança que nunca pôde ter.

Sem erro, Gumercindo encontrou a dama prometida, olhos cor do mar, cabelos negros escorridos, a mulher mais bonita já vista. Com algumas dificuldades, conseguiu corteja-la, e quando teve sua mão negada, a levou embora para conseguir a permissão do casamento, que logo foi feito.
Lívia era moça, com saúde, com muito medo de perder o homem para Iemanjá, tentava sempre acompanha-lo em suas travessias, o problema é que Guma temia também pela segurança da esposa, então as andanças a dois foram reduzidas.
A mulher engravidou, ao mesmo tempo em que sua vizinha, Esmeralda, se oferecia a Gumercindo, tentava-o e estava conseguindo. Com o decorrer do tempo, a barriga evoluiu, certa noite sua esposa passou mal, parecia até que perderia o filho, mas ficou estável. Lívia confiava em Esmeralda, essa por sua vez via a felicidade da jovem e sentia como queria magoa-la de todo o coração. A esposa estava no quarto ao lado, Guma consumou a tentação, traiu o amigo e a mulher que sofria no quarto ao lado para dar vida a uma criança dele.
Iniciou uma fuga incessante de seu amigo, companheiro de águas e que amava a Esmeralda, a preocupação com sua mulher era menor. O tempo ajudou e a mulher má que causou isso arrumou um outro alguém, que despertava o ciúme do traiçoeiro navegante.
Rufino, o amigo, descobriu da traição mais recente e resolveu matar a mulher que amava, pois antes ela já havia o traído, na hora do ato, descobriu a traição de seu melhor amigo, e se atirou no mar após acabar com a vida de Esmeralda. Guma nunca soube da descoberta do amigo.
A poucos dias de dar a luz, Lívia foi esperar seu homem no cais, no entanto, chegou junto a outro saveiro, desmaiado, pois a embarcação dele havia afundado. O susto adiantou o parto, mas todos ficaram bem. Rosa cumpriu o combinado, foi recebida como avó, tirou a navalha da saia, o punhal do peito.
Guma comprou fiado um saveiro, o “Paquete-Voador”, mas a crise chegou ao cais e a tabela de preços de transporte caiu. Sem formas de ganhar dinheiro, aceitou entrar no negócio do contrabando, dinheiro fácil e rápido, sem perigos. Nas ultimas entregas que faria, uma tempestade o pegou, afundando o saveiro, os tubarões também o pegaram, Guma nunca mais navegou.
Sua esposa chorou a morte, o mar lhe parecia morto, cor de chumbo, até chegar a conclusão de que a única forma de se aproximar novamente de seu amado, seria estar no mar.
Lívia, juntamente com Rosa Palmeirão, que colocara de novo a navalha na saia e punhal no peito, assumiram o comando do “Paquete-Voador”. A mulher, jovem viúva, em seu saveiro estava completa, com saudades de seu homem, mas mais forte do que nunca esteve. Do cais a viram e o povo jurou estar vendo Iemanjá dentro daquele saveiro. Lívia era a imagem da Princesa Aiocá.
Uma interessante característica desse romance é a exaltação da cultura e crenças do cais, a fé e um destino certo, traçado por Dona Janaína, juntamente com a história de todo um povo e o que se construiu até a época.