A exceção e a regra, por Bertolt Brecht

Eugen Bertholt Friedrich Brecht nasceu em 1898, foi um dramaturgo alemão que marcou o século XX, trabalhando com o teatro de uma maneira crítica, usando-o como uma forma de conscientização política. Brecht estudou medicina e serviu como enfermeiro durante a Primeira Guerra. Teve sua primeira peça estreada em 1922, a qual lhe rendeu um prêmio Kleist por Tambores da Noite. No final de 1920 se torna marxista, sendo esse um dos motivos de sua saída da Alemanha após a eleição de Hitler em 1933.

Friedrich utilizou do teatro para demonstrar injustiças sociais e abertamente ir contra as elites, características que o colocaram como um dos maiores dramaturgos do século. Segue abaixo resumo de A exceção e a regra.

“Havia um comerciante muito apressado para chegar a uma cidade e fechar um negócio de uma nova fonte de petróleo, para isso contratou um guia, para levá-lo pelo deserto e um cule, um carregador sem “carteira assinada” (mão de obra barata ) para levar toda a bagagem.
Durante a viagem, o comerciante reclamou diversas vezes para o guia bater no cule para que ele andasse mais rápido, pois outros comerciantes vinham seguindo os passos do trio, e poderia perder o negócio. Entretanto, o guia se recusou e muito pouco agrediu ao cule, que se esforçava ao máximo para não ser despedido.
Na última parada antes de enfrentarem o deserto desolador, o comerciante dispensou o guia por o achar bom demais para com o cule. O recém desempregado foi ao cule e lhe deu seu cantil de água, prevendo que iriam se perder e quando a água do comerciante acabasse, o tirano iria tirar a água do pobre contratado.
No início da viagem o cule começou apagando as pegadas na areia, o que preocupou o comerciante, mesmo o outro afirmando que era para despistar os bandidos.
Encontraram um rio cheio, o cule afirmou não saber nadar e pediu ao rico homem que esperassem a água se acalmar, em resposta, o patrão colocou o cano do revólver em seu empregado, obrigando-lhe a atravessar o rio.
Ao fim, o cule teve o braço quebrado pelo comerciante, que ao ver o homem com toda a carga começar a afogar, o puxou com toda a força de dentro d’água.
A essa altura, o rico já esperava uma revolta do carregador. Até quando o mesmo cumpriu com sua função e montou a barraca, ainda achava que ele estava esperando para atacar.
No outro dia, o cule ao ver que a água do outro havia acabado, pegou do próprio cantil secreto para dar-lhe de beber. O comerciante o viu se aproximar, crendo que carregava em mãos uma pedra, lhe derrubou com apenas um tiro.
No julgamento, a esposa do falecido pedia ajuda para os juízes o seu sustento e o do filho, agora que estavam sem alguém para fazer por ela.
Ao final do julgamento, o guia, antes deixado para trás, conseguiu provar que não foi usada uma pedra, mas sim um cantil ia ser entregue de boa vontade.
‘A regra é: olho por olho!
Só um tolo espera uma exceção:
que o inimigo lhe dê de beber,
o sensato não pode conceber’ (BRECHT, Bertolt. 1929/1930)

No entanto, ao saberem de todos os maus tratos que o morto passou, acharam justificável a afirmativa do homem rico, que suspeitava de uma tentativa de vingança, e que sim, o cule iria tentar mata-lo com o cantil. O oprimido se revolta contra o opressor, essa é a regra, não há exceção.”

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