Sol de um sábado de manhã

A blusa está em algum lugar, tenho certeza, foi o pensamento que pairou por sua cabeça. A pequena kitnet estava bagunçada, e com certeza sempre frequentada. O horizonte começava a clarear. Lembrou-se de como Apolo guia seu carro do sol de uma ponta à outra. A blusa, aonde poderia estar. Uma visão de horas atrás lhe tomou a mente. Ele a jogou atrás da porta. Vestiu-se.
A porta estava destrancada, olhou para ele, roncava ao inspirar, semelhante aos suspiro de um cachorro, comparou com carinho. Uma porta destrancada é muito descuido. Trancou por fora e passou a chave pode debaixo da porta. Espero que ele não chute a chave de volta para fora, sorriu.
Desceu as escadas, apreciando o leve aroma de lodo que habitava ali. Quando pequena seu quarto possuía aquele cheiro. Lodo lembra infância. Bons tempos.
Abriu a porta de incêndio e saiu, logo em seguida viu uma mulher. Alta, com ombros largos, queixo forte. A mulher segurava na mão esquerda uma peruca castanha, a mão direita acariciava o rosto cuidadosamente. Estava ferida, o olho esquerdo quase não podia ser visto, um filete de sangue seco descia pela boca.
A nossa mulher olhou a mulher que passava, entrou em sua frente, interrompendo a passagem e a abraçou. Os ombros ficaram rígidos, prontos para mais violência. Ela sentiu mãos ao redor da cintura. Deixou a peruca cair e chorou.
A mulher de roupas espalhafatosas foi ouvida, sua voz rouca e grave.
A vida é tão cruel, pensou a moça, ao caminhar por calçadas pouco movimentadas. Pôde ver Apolo chegando. As ruas começavam a ganhar vida. Ainda tão cedo, ouviu uma buzina e um assobio, olhou na direção do som, um homem a chamava para perto do carro.
Às vezes me irritam, divagou enquanto seguia seu caminho. Talvez pudesse chamar um carro. Mas perderia a beleza que está sendo o início desse dia. Hoje pode ser melhor que ontem. Ontem foi um dia bom.
O céu alaranjava-se. Um dia conseguirei pintar essas cores, irão confundir minhas obras com fotografias.
Uma hora depois estava no portão de casa. Será que o Mailou está com fome. Passou por todas as trancas, fechando uma a uma após passar.
Tomar banho refresca. Esse frescor vai além do corpo. Minha mente é lavada também . 
Se deitou desnuda na cama. Que sono gostoso. Já são sete horas. Manhãs de sábado voam.

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