Um dia ela havia sido alta, clara. Havia tido marido, dois filhos, pouco a pouco, eles morreram. Agora era uma velha magra, pequena e escura, vivia de esmolas, com um único vestido preto, que usava a todo momento. Dormia lá e cá, sem nunca se fixar. Com frequência acordava de madrugada, arrumava a cama e saía correndo, dizia que passeava pela cidade.
Dado momento, se percebeu que ela já estava há algum tempo em uma residência. A família achava graça dela, mas a esqueciam a maior parte do dia. Mal comia, recebia camas duras e pequenas, não percebia incômodos.
Certo momento, decidiram por encaminhar a Mocinha, como gostava se der chamada, para outro lar, esse seria em Petrópolis, na casa de um filho daquela família.
Ao ser informada da viagem, Margarida, seu verdadeiro nome, passou a noite inquieta, com a ansiedade da viagem e da mudança. Lembrou-se de seu filho, que faleceu embaixo de um bonde, da filha, que morrera de parto, e do marido, mas dele sempre se lembrava com camisas de manga, mesmo que ele nunca tenha usado esse tipo de camisa.
Pela primeira vez sentiu o colchão duro, uma fome voraz apareceu, devorou um pão com manteiga seco que guardava, e ao acordar penteou os cabelos, pois era mulher de se pentear antes de sair.
A real intenção da família era jogar o peso para outro.
Ao chegar na casa do homem destinado, ficou com vontade de comer, tomar um café, mas nada lhe foi oferecido. Logo, foi mandada embora, com uma pequena quantia para conseguir voltar ao Rio.
Ao passear pela cidade, viu uma mulher bebendo água da fonte, quando a mesma saiu, ela foi até lá e se refrescou, caminhou e sentou-se em um tronco, e morreu.
