Ela reluzia, brilhava e transpassava qualquer ideia de limites. Com rosto afável, mas atraente, corpo esguio, que inspirava os maiores desejos, toda ela arrancava suspiros. Sem defeitos, era perfeita, era uma santa.
Cabelos longos, pele lisa, dentes suficientemente grandes, bochechas rosadas e punhos finos, ajudavam na composição da bela menina. Tão linda, mas tão linda, que nunca estava sozinha. Ela, no entanto, não suportava sorrir. Sorriso que os olhos não se alegram. Sorriso que é a falsa gentileza em retribuir olhares tolos, vazios. Todos são tão vazios. Não que ela fosse diferente. Apenas sabia reconhecer a profundidade de sua psique, que até onde era perceptível, era bem rasa.
Cada dia que se passava, ela ficava mais bonita. Na rua, as pessoas tropeçaram ao vê-la passar. Nas lojas, era perseguida por vendedores encantados por atender uma princesa saída direto de contos de fada.
“Contos de fadas?”
“Contos de fadas.”
Ela odiava histórias e faz de conta. Ela não suportava ser idealizada, pura.
Os dias eram longos, intermináveis, o calor sempre insuportável, mas obrigada a tolerar, uma moça não pode suar, uma moça não pode feder.
“Não esqueça de usar muito desodorante, não precisa economizar”
“Depila esse suvaco, tenho uma lâmina nas minhas coisas, pela lá”
A cabeça a mil, a boca a zero. Ansiava por falar e ser ouvida, eles a ouviam sem escutar. Olhavam em seus olhos sem olhar. Admiração. Aspirava bastante admiração, por que não se sentia vista? Ela brincava de como era um fardo ser bela, todos riam, e ela ria também, riso forte, riso choroso.
Não quero mais ser bela, preferiria nascer comum, até feia, de alguém me escutasse, realmente ouviria. Será que ouviria? Se aparência é tão importante, não precisaria ser bela para ser ouvida?
“Não entendo. Não entendo”
Ela era pura dor, pura solidão.
