Em uma grande cidade, havia uma menina, uma menina que entre todas as outras, era comum e nada especial, nem se sabe o porquê de contarem sua história. Essa criança era mal desenvolvida com sigo mesma, sempre se sentia uma peça patética na máquina social, sobrando.
Muitas experiências comuns assolavam a menina comum, com inteligência e beleza igualmente comuns. Em momentos tristes, chorava, em felizes, se alegrava, e se apaixonava com indescritível facilidade, desapaixonava também, apesar da tão tenra idade.
“Você não é especial”, ela sempre escutava da própria família.
A menina, em seu entendimento mediano, não assimilava as afirmações como as que lhe faziam mal ou bem, uma tristeza. Todos os dias, em algum momento após acordar, sentia ferroadas, constantemente atormentada por isso. Cada vez em um local diferente, nas mãos, pescoço, pés. A ferroada inchava e mudava de cor. Ela nunca conseguia encontrar a causa, pois com sua credibilidade comum, ninguém conseguia a levar a sério.
Com certa paciência, ela conseguiu se acostumar a isso, e até aprender tratamentos alternativos para que a dor durasse menos.
O tempo foi passando e ela foi crescendo, agora na rua ela é a menina que tenta ser aceita*, sem ela mesma se aceitar. Os dias continuaram os mesmo, até quando decidiu se casar. Logo na noite de núpcias, teve que contar ao jovem marido o que acontecia todas as manhãs, chorou. Ele a abraçou e disse que estaria ao seu lado quando acordasse, a ajudaria a passar por isso.
Na manhã seguinte ela acordou aos berros, mais picadas do que podia contar. Seu corpo inteiro pulsava com as toxinas reagindo a ele, se coçava e gritava. O rapaz em desespero, tentava a abraçar, em uma vã ideia de tentar a acalmar.
“Eu não aguento! Eu não aguento! Dói mais do que posso suportar”
“Eu estou aqui por você, confie em mim”
Ela começou a tossir, seus pulmões doíam até não suportar mais, e tossiu e tossiu. De seu tronco começaram a sair zumbidos, cada vez maiores. Quanto mais tossia, mais forte ficava, quando deu por si, um, dois, três, marimbondos do tamanho de dedos mindinhos saiam de sua garganta, e ela gritava.
“Socorro”
*Cota não é esmola – Bia Ferreira