Reanach

Tão bonita, não à primeira vista, claro, pois o que é belo à primeira olhada acaba por ser comum. Mas bela à segunda vista, que é a beleza única. Ela era assim.

Caminhava como se nada no mundo pudesse a preocupar. Seu andar era meio torto, meio de lado, às vezes falhava, com alguns passos no vácuo. Mesmo assim, sempre bela. 

Sua pele vermelha reluzia sob a luz da lâmpada. Suas pernas sempre em movimento, agora aos tropeços. A vida dela estava sempre em escalada, sentindo cada fresta antes de seguir em frente. 

Senti por ela, as coisas não são fáceis. Sobreviver a cada dia, pensar no alimento que não sabe se terá, ainda contando com as chances de ser atacada e morta, por estar ali, existindo, sem nem pedir ajuda alheia. 

Eu a observei por um bom tempo, sempre mantendo a devida distância, pois ela poderia, apesar de tudo, me ferir. Pois eu a temo, também. Ela não me percebeu, me atrevo a dizer que ela mal se importou com minha presença, não fui uma ameaça, apenas dividimos um cômodo momentaneamente. 

Acabo por crer que ela vive mais intensamente do que eu conseguiria. Cada dia pode ser o último, e isso não importa. O importante é continuar a caminhar agora. 

Segui ouvindo a água cair e a vendo subir, e escorregar, tudo estava molhado. Me peguei admirando tão vidrada aquele esforço, que me esqueci que estava me banhando, e que ela era uma aranha escalando uma cerâmica molhada.

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