Vendo ciscos de poeira

Os tijolinhos beges deixavam o comando muito grande, parecendo ainda mais vazio. As 12 lâmpadas iluminavam o ambiente uniformemente, no entanto, não brilhava muito.

O ar-condicionado não estava gelando, era algo como ventilador, uma brisa fresca, com a queda da temperatura no final da tarde, estava sendo suficiente.

De tempos em tempos o som agudo de uma furadeira ao longe contra algum metal invadia o local agredindo os tímpanos, indo embora tão rápido quanto chegava, logo sendo substituída pelo constante ruído do ar-condicionado.

Cada instante levava uma eternidade para passar. Olhou o celular uma vez, nada, um minuto depois, nada. Repetia o ato incontáveis vezes

A calça jeans não mais incomodava, os músculos abaixo dela, sim, estavam doloridos pelo exercício de dias antes. Constantemente balançavam os pés, ou batia a caneta sobre a mesa.

Cada minuto passou se arrastando, como se sentisse sede e não houvesse água à vista. Longos, intermináveis. Olhou o celular 3 minutos desde a última vez. Barulho de furadeira novamente.

Toma água e espera, espera por algo, mas está só. Se entrega a deixar o tempo passar. Se sente meio só. A cabeça começou a latejar, é a pressão de esperar.

O encosto de plástico duro da cadeira. Olha o celular, uma mensagem. Mas aparentemente não era isso que queria. Queria urgência.

O ambiente começou a esfriar, ou ela que estava quente?

O coração disparou em arritmia a caneta batendo. Tudo tão vazio, claro demais. Tinha sede, mas não era de água. Há algum tempo estava só. Me arrisco dizer que talvez nunca teve alguém ao seu lado.

Agora sentia que não respirava. Faltava ar nos pulmões. Se agarrou às laterais da cadeira e pediu ajuda (a quem?) mentalmente. Os olhos não piscavam, até que sentiu um beliscão no antebraço.

“Flor, você tirou foto do último slide?”

“Qual slide?”

“O de proteína.”

“Não tirei.”

Em volta, a sala estava cheia de jovens adultos em aula. Havia cochichos, luzes de celulares, sons de canetas passando no papel. E animação do final de aula, à espera da chamada.

Estava rodeada de pessoas, mas estava sozinha.

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